quarta-feira, 23 de julho de 2014

Fundos da Treta

Há umas semanas o país acordou atarantado com o estouro do BES. Nada que já não se esperasse há algum tempo. Para os “especialistas” da matéria tem sido um maná. Não há cão nem gato que não ande por aí a debitar asneiradas, quer nos pasquins da especialidade, quer na caixinha que mudou o Mundo. Naturalmente não cabe aqui analisar a situação financeira do Banco. Mas podemos falar nalgumas variantes engraçadas.
O Diário de Notícias do último Domingo trazia um excelente trabalho sobre os Fundos de Investimento onde os clubes de futebol se têm ultimamente, dependurado. Apenas não fez a necessária separação das águas, a distinção entre os Fundos digamos, normais, e aquele que foi “inventado” pela “instituição” de uma freguesia da capital do reino, o Benfica Stars Fund.

A “novidade” é que desse Fundo faz parte um dos fundadores/investidores. Quer dizer: Tira de um bolso e mete no outro. Assim por alto, para não maçar os leitores, o Fundo foi constituído com um capital inicial de 40M€ dos quais a SAD do clube em questão, detém 15% (6M€).
Como se trata de um fundo fechado, quer dizer, apenas aberto “a convidados” não sabemos exactamente quem são. Falou-se na altura da constituição que os investidores dos restantes 85% poderiam ser o Banco BES, Joe Berardo, Jorge Mendes, e claro, a Isabelinha dos Santos que ultimamente investe em tudo que mexe. Nas operadoras televisivas, na multimédia, na área das comunicações, e organismos correlativos. Tratando-se de “emprestar” dinheiro ao clube que faz chegar às palhoças lá da terra os hossanas cantados pela imensa legião dos pasquineiros do futebol da treta, todos encarnados já se vê, não poderia ficar de fora.

Ora ”partanto” quando disse acima “emprestar” estou a falar do “forno íntimo” do penhorista. Este Fundo nasceu para isso mesmo. É igualzinho a uma Casa de Penhores. Uma SAD coloca lá uns jogadores presumivelmente valiosos comprados a pataco, e oferece, digamos 20 ou 25% à cabeça para a SAD ir estourar em mais umas paletes a chegar ao Cais do Sodré.

Se por acaso algum dos penhorados se distinguir dos seus pares e alguém o quiser adquirir o dito Fundo informa o titular dos direitos económicos, neste caso a “instituição”, que arranjou um otário que quer comprar o atleta. Mais tarde, um dia quando o Fundo estoirar, a maçaroca que eventualmente sobrar é rateada pelos investidores na razão direta da sua participação.
É desta situação que está próximo o acima referido Benfica Stars Fund. Vamos ver sem grandes explicações técnicas como aquilo funciona. O Fundo é administrado pela ESAF, uma sociedade do BES que seleciona, adquire e aliena os ativos do mesmo, através dum Comité de Investimentos composto por elementos da Entidade Gestora, e “elementos ligados ao futebol que não sejam Agentes de jogadores, e não tenham qualquer vínculo laboral à Sad do SLB”. Ao contrário do que diz o aldrabão do Dia Seguinte é ao Fundo que compete decidir se vende um jogador ali colocado e por quanto.

Para isso baseia-se numa política de investimento cujos fatores são, por exemplo, a expetativa da valorização futura do atleta; o sucesso nas camadas jovens; a probabilidade de integrar ou não a equipa principal da Benfica Sad; a internacionalização e historial do atleta; a posição do atleta em campo e a quantidade de atletas atuantes na mesma posição; o passado disciplinar do atleta; etc.

Os Custos do Fundo são: comissões de gestão, depósito e supervisão; seguros de acidentes pessoais dos atletas; exames médicos; comissões a pagar ao Agente FIFA responsável por uma eventual transação; contribuições para o fundo de solidariedade da FIFA; e finalmente, os Encargos Fiscais.
Por fim, e este é o assunto do momento, o que vai ser dos jogadores não transacionados quando o Fundo encerrar, o que sabemos irá acontecer dentro dos próximos 2 meses? Segundo o Capítulo VI Artigo 28º (Liquidação do Fundo) este poderá dissolver-se por: a) decurso do prazo previsto (5 anos após o seu inicio); b) por decisão da Entidade Gestora; c) caducidade da autorização; d) revogação pela CMVM; e) impossibilidade da Entidade Gestora continuar a exercer a sua função.

O que acontece aos Direitos Económicos dos atletas ainda integrantes do património? Competirá à Entidade Gestora encontrar compradores interessados, assistindo sempre à Benfica, Sad a possibilidade de cobrir qualquer oferta, adquirindo-os pelo valor refletido na carteira do Fundo. Por outras palavras: Se o Benfica quiser pode levantar os jogadores pelo valor que a Entidade Gestora os tenha avaliado.

Fácil não é? Bastava mesmo terem lido o Regulamento numa Internet perto de si.
NOTA - Já depois de ter escrito esta crónica tomei conhecimento que o Espírito Santo Liquidez, o maior fundo de investimento do país tem cerca de 67 milhões dos mais de mil milhões de euros que gere aplicados em obrigações da Benfica SAD. Estas obrigações atingem maturidade em outubro e dezembro, não sendo claro se o Fundo aceitará mais um “empurrão” para a frente deste Passivo como habitualmente a “instituição” faz, ou seja contrair um novo empréstimo obrigacionista para liquidar o atual.
 
Até à próxima

4 comentários:

Fernando Tavares disse...

Muito francamente, lamento que este artigo não seja publicado:

1º nos Jornais Desportivos da nossa praça.

2º Nos Jornais generalistas secção Desporto.
Eu que conheço bem o José Lima sei que ele não poria entraves e ao tornar-se público, via media com muita expressão, seria como no Mística está a ser uma excelente anotação de interesse público geral.
Parabéns Lima

José Correia disse...

Pois é, caro José Lima, este tipo de assunto interessa pouco aos adeptos e muito pouco, ou nada, à comunicação social do regime.

Um abraço

Anónimo disse...

Caro,

Descobri hoje o blog. Parabéns pelo espaço que diverge no sentido positivo dos demais.

Eduardo Campos

Anónimo disse...

Caro,

Descobri hoje o blog. Parabéns pelo espaço que diverge no sentido positivo dos demais.

Eduardo Campos